quarta-feira, 20 de abril de 2011

Quarto Negro


A porta deste quarto negro se fecha
Palavras não fazem sentido algum
As sombras perseguem os sonhos
E pesadelos perseguem o que é real
Você está mesmo aqui diante de mim?
Eu nunca posso estar certo quando insano
Pois as alucinações são tudo o que posso ver
Vozes, de onde vêm estas vozes cruéis?
Que me dizem pra desistir do que é impossível
Eu vivo de ilusões e morro aos poucos na realidade
Um espelho de mentiras mostra o que todos querem ver
Eu não sou sincero, mas eu também não minto,
As paredes escutaram cada segredo que eu guardei
E toda noite elas sussurram meus erros e pecados
E meu coração grita em resposta minhas razões
Preso a estas correntes invisíveis que eu criei
Numa prisão de loucuras infernais e fantasias
Eu sinto o fogo consumindo a sensatez
Chutando e gritando dentro das paredes desta prisão
Ninguém pode me ver, ninguém pode me ouvir,
É em vão lutar contra si mesmo quando sabe que irá perder
O mundo está se perdendo lá fora aos poucos
E eu nem mesmo sei onde estou trancado padecendo
Apenas sei que seremos sempre todos loucos
Um dia meus pulsos sangraram e meus olhos derramaram lágrimas
Eu me escondi dentro de mim e não soube mais voltar
Enxerguei em um lago o reflexo da insanidade distorcido
Enganando a todos fazendo parecer genialidade
Todos enxergam o que querem ver o que você está vendo agora?
Neste momento eu ouço uma única voz, que voz é esta?
Ela está me empurrando para um lugar desconhecido
Para onde estou indo? Estou me perdendo mais uma vez.
Eu vejo estes olhos no escuro, tão lindos e perigosos.
Hipnotizando-me dizendo algo que ainda não consegui entender
Ora quem sou eu para julgar o que é ilusão?
Meus lábios pronunciam palavras que ferem meu próprio coração
Eu sinto o veneno letal apenas a mim se espalhar ao meu redor
Ele corre por minhas veias esperando o momento certo para me infectar
Pensamentos incomuns e desconexos
Olhos cegos distantes e vazios
O que você guarda dentro de você?
Quais as memórias que você protege?
Eu colei nestas paredes fotos de momentos que parecem não ter existido
E meu coração carrega toda a culpa de se martirizar por tanto tempo
Que mãos são estas que tocam meu rosto tão singelamente?
O toque de um anjo cuidadoso e protetor
Você é capaz de ver a loucura nos olhos dos que te cercam?
Nada é em vão se assim você pensar,
Mas tudo é inútil se você desiste de tentar
Um dia eu vi o mundo do alto do céu tarde da noite
Cortaram minhas asas e eu jamais voltei a voar
Como é a luz do amanhecer fora do meu mundo?
Aqui não existe luz preso tão longe de tudo
E tão perto de mim mesmo que é a razão de eu estar aqui
Frio, eu sinto tanto frio quando meus olhos se fecham e voltam no tempo,
O mundo faz você ver através de lentes que eles impõem
Você está mesmo disposto a se entregar assim?
Todas as cicatrizes que eu mesmo fiz ainda doem
E eu insisto em reabri-las e sujar de sangue minhas mãos
O sangue com o qual eu tracei o caminho para a insanidade
Permanecerei por muito tempo mais neste quarto negro
Cujas paredes um dia refletiam a luz de um mundo de poder fugaz
E onde hoje eu padeço perdido dentro de mim
Marcado pelo sangue e pulsos rasgados sem piedade
O amanhecer não existe e a noite é sempre eterna
Continuo a cair num abismo no qual saltei
Esperando um dia chegar ao fim de tal guerra
Quando saberei quem está diante de mim
Será real ou apenas mais uma alucinação infernal?



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