Dois anos, pareciam dez, talvez mais, mas de nada adiantava continuar a me lamentar. Por isso eu mantinha aquela mesma alegria rotineira, quantos me diziam “Você mudou mesmo está até mais feliz!”.
Quanto de verdade havia no meu sorriso? Ou melhor, quanto não havia de farsa na minha felicidade? Era inútil, nos primeiros dias realmente acreditei que iria superar, cheguei a gostar de outra garota, mas não durou muito... Nesses dois anos eu percebi não podia me imaginar muito mais do que um ano ou dois ao lado dela.
Amigos pareciam ser o suficiente para que tivesse meu consolo, não quero desmerecê-los, mas não tem bastado o que me fazem. Desde que decidimos terminar, achei que era o certo, mas achei que não me amava mais! Contudo, quando conversamos, ela ainda demonstra aquele sentimento por mim, e é inevitável que eu não derrame minhas palavras repletas de amor oculto.
Eu havia chegado ao meu limite, mesmo assim continuaria fingindo ser feliz, até que morresse com um sorriso em minha face, falsa e ridiculamente esboçado. Eu caminhava pensando na vida pelas ruas, gastando tempo, deixando meu coração transbordar versos. Sim eu amava poesia, se não fosse ela não haveria forma de eu poder me expressar com toda a intensidade de meus sentimentos. Minha amada também tinha consideração por tal arte, escrevia as palavras que tocavam meu coração a ponto de enlouquecê-lo, inspira-lo mais do que a qualquer outro!
Não nos víamos há uma vida, literalmente, eu podia ter certeza que se realmente existissem almas gêmeas, era ela a minha, nunca nos vimos pessoalmente, mas era como se há uma vida atrás eu tivesse tido cada toque, cada beijo, cada momento da minha vida ao seu lado, e por ter estado tão junto dela, agora eu estava pagando o preço com sua ausência.
Estava com tudo organizado viajaria até ela, mas o que aconteceria então? Medo eu não possuía, entretanto não iria ousar romper os limites que ela me impusesse. Enfim eu teria de arrumar uma maneira de me controlar de aumentar meus conhecimentos sobre lidar com a dor. Quanto mais perto eu imaginava tê-la, mas eu sabia que doeria quando tudo voltasse a ser o que era, quando eu voltasse a minha vida tão distante e remota, e apenas cartas, telefonemas e mensagens virtuais fossem trocados.
Suportei por mais duas semanas então parti para meu destino, para o momento que decidiria minha vida, eu estava com uma sensação estranha àquela manhã, mas a ignorei o quanto pude, peguei o carro e dirigi tranquilamente por horas.
Quando estava para chegar à cidade, peguei o celular e liguei para uma amiga que morava na cidade e pedi que me encontrasse para que pudesse me guiar enquanto conhecia melhor a cidade.
Ângela me recebeu com um largo sorriso e um abraço acolhedor, mas do que ninguém ela me entendia quanto a tudo. Pegou-me pela mão e me fez sentar num banco da praça ao seu lado:
-É bom tê-lo aqui Alan, você não faz idéia!
-Também estou feliz, mas Ângela, você deve saber o quanto estou ansioso para poder vê-la.
-Sim eu sei, vou te levar até ela, mas Alan me prometa uma coisa ta legal?
-O que?
-Não se magoe ainda mais... Voes dois, não se entristeçam, não quero ver os meus dois melhores amigos tristes. Pode ser?
-Eu prometo que vou tentar.
Voltamos ao meu carro e andamos até um parque, lindo como eu jamais havia visto, o sol beijava toda a vegetação, e algumas pessoas estavam deitadas debaixo de algumas árvores. Mas nada foi capaz de chamar mais minha atenção quanto àquela visão, sentada num balanço pelo movimento de seus lábios delicados percebi que estava cantando.
Ela não se deu conta da minha presença, sabia que deveria estar parecendo louco, com o olhar fixo e o sorriso, finalmente verdadeiro no rosto ao admirá-la, somente quando Ângela me empurrou para começar a andar foi que saí do transe e caminhei.
Ela também sorriu, o mais lindo e encantador sorriso, levantou-se e com sua voz doce e suave me abraçou e disse:
-Finalmente você está aqui!
-Finalmente eu tenho um motivo real pra sorrir!
Ficamos assim por um tempo mais longo que o comum, sentir o calor dela envolvida em meus braços era algo único, trocaria tudo para ter aquilo para sempre. Após terminarmos o abraço Ângela conversou um pouco conosco até que resolveu nos deixar a sós.
Lizandra e eu falamos sobre tudo, mas evitávamos falar sobre amor ao máximo, ela me convidou para ir a sua casa, haveria uma reunião de amigos mais tarde, e aceitei sem nem mesmo hesitar.
Cheguei acompanhado de Ângela, mais uma vez Lizandra me recebeu com um abraço, mas desta vez acrescentou um beijo apertado em minha face, o que me fez corar e a fez rir. Durante a reunião foram chegando várias pessoas, eu conhecia algumas, outras mesmo sendo a primeira vez que nos víamos foram calorosas e simpáticas.
Saí para o jardim tomar um pouco de ar, mãos cobriram meus olhos e mesmo não conhecendo há muito tempo aquele toque sabia que era Lizandra, ficamos olhando as estrelas em silêncio até que ela começou a falar:
-Às vezes me arrependo de não termos mais nada Alan.
-Eu lamento isso todos os dias... – Disse me virando para ver seus olhos.
-Mas parece estranho voltarmos não é?
-Um pouco, mas o meu desejo é maior do que a estranheza.
Segurei sua mão, ela não recuou, aproximei meu rosto e nos beijamos. Nunca havia tido um beijo como aquele, era como a sensação de beijar um anjo, pois eu me sentia mais divino, abençoado, ela era a toda a razão pela qual eu vivia e agora estava totalmente entregue em meus braços.
Depois do beijo me olhou como se tivesse se lembrado de algo que não seria bom de ouvir:
-O que há de errado Lizandra?
-Eu sinto muito Alan, mas há um motivo maior pelo qual não iremos voltar. Algo que eu escondi e tive medo de lhe contar até hoje...
-Mas o que é?
-Me perdoe, eu sempre lhe amei, mas achei que o melhor era esquecê-lo! Esquecer, eu jamais consegui, entretanto cansei de sofrer e agora eu... – Parou por um instante e começou a chorar eu a abracei e ela me afastou delicadamente, puxou algo prata e pequeno de seu bolso e colocou em seu dedo.
-Você não quer dizer que... Mas como? Foram apenas dois anos, eu estive esperando para lhe encontrar, eu alimentei ilusões mesmo sabendo que não deveria! Mas não achei que minha dor seria por este motivo!
-Meus pais, amigos, todos disseram que seria melhor Alan. Eu sofri tanto, mas não podia continuar daquele jeito pra sempre. Quando Júlio me fez o pedido eu pensei por um tempo, eu já havia pensado nele assim antes de conhecer você, embora com pouca seriedade, depois de pensar acabei aceitando e agora estamos noivos.
-Sinto muito Lizandra por tudo... Mas acho melhor eu ir embora!
-Pra onde você vai Alan? Por favor, fique...
Não escutei mais nada disse um breve adeus para Ângela e peguei meu carro, andei alguns quilômetros e parei num posto de gasolina. Abri a porta luvas puxei meu diário e comecei a escrever.
Depois de um tempo escrevendo, fui até a conveniência do posto comprei um refrigerante e o bebi saboreando como se fosse o último, olhei a Lua e as estrelas por um tempo então entrei no carro, peguei a folha na qual escrevi dobrei-a e a guardei firme em minha mão.
Acelerei o carro o máximo que pude fazendo curvas arriscadas, enquanto ouvia e cantava minha música favorita quando a música acabou sabia que havia chego a hora, pisei até o fim no acelerador, fechei os olhos e fui de encontro a um poste então não vi, não senti, não havia mais nada, não havia mais corpo, não havia mais vida, apenas minha alma a se dispersar pelo infinito...
Em algum tempo o emergência chegou, mas não havia como salvar o jovem de apenas dezenove anos, cabelos castanhos, tinha olhos dourados, a pele clara, ainda mais pálido e agora gélido após ter ido de encontro à morte.
Uma linda jovem chorava inconsolável perto do acidente, um rapaz tentava acalmá-la, mas nada adiantava. A cena, fazia todos sentirem-se vazios por dentro, como se fossem nada! Alguém cheio de vida, que fazia todos que ele amava felizes, havia dado fim ao seu sofrimento da pior maneira.
Um dos policiais veio até a jovem que chorava e lhe entregou um papel dizendo:
-Encontramos isso junto ao rapaz, você o conhecia, então acho que é direito seu.
Outra garota se juntou a ela e as duas leram a caligrafia apressada que tanto conheciam do jovem. A carta dizia:
S |
e cada pedido de socorro for negado
E cada um dos meus gritos ignorado
Quem serei eu? O que sentirás com isso?
O vento traz sussurros tentando me aconselhar
Para que vá para longe, ou decida me matar!
Cada batida do meu coração dói ardentemente
Eu jamais poderei recuperar o meu ar
Quando se aproxima e nunca ousa me tocar
Daria tudo por teu toque, para sentir teus lábios,
Mas você mantém essa distância irrompível
É impossível suportar tua presença assim
Mas é ainda pior não vê-la aqui!
Sem limites caindo dia após dia enquanto a luz
Começa a desaparecer e os vestígios de vida morrem
Você não irá mais me salvar quando eu gritar
Nenhum de nós irá cumprir nossas promessas
As promessas, as juras, que escrevo em sangue,
Blasfemando e condenando minha alma ao inferno
Sem me importar nada é pior do que perder você
E eu já perdi não me resta mais nada a perder.
Sangue é tudo o que vejo a minha volta
É o meu sangue que se derrama por meus pulsos
Que se estende pelo chão ao meu redor
Não sinta compaixão por mim, eu não quero!
Tanto desejo teus lábios quando os rejeito
Irracional me jogo aos teus pés e imploro
Recuso-me a ter este orgulho estúpido
Se eu continuo a te amar sem fim
Mas recuo ao ver no teu olhar profundo
Que de nada adiantarão minhas palavras
O meu destino é padecer sem ti sem teu amor
Sentirás minha falta quando enfim eu partir?
Com estas palavras despeço-me aqui
Oh, meu amor! Este é o fim,
Será a primeira e a última vez que lhe vi!
Esta é minha carta final que será encontrada junto ao meu corpo vazia, sem vida! Lizandra você foi quem realmente amei, mas agora tem outro a quem amar e essa tristeza eu não posso suportar! Não se sinta culpada, mas saiba que sempre a amarei! Não houve nada mais importante do que seu amor, nosso único beijo foi o suficiente para me fazer completo por toda a existência de minha alma. Tudo o que posso dizer é EU TE AMO!
A minha família meus amigos, especialmente aos meus pais eu peço perdão! Morro jovem, de modo trágico e insensato, estúpido eu admito, mas o amor me fez assim, e o respeito e consideração por todos me fez esconder a depressão que carreguei em segredo durante esse tempo. Amo todos vocês, mas irei partir, não se culpem, foi uma escolha unicamente minha. Adeus!
Amo todos vocês, que Deus tenha piedade em relação a mim, me perdoem por isso... Esta será minha última lágrima.
Nenhum comentário:
Postar um comentário